segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A palestra que não aconteceu

Em fevereiro de 2009, apresentei uma palestra durante a mesa redonda Capitalismo e agricultura, que fazia parte do XIX Encontro Nacional de Geografia Agrária – Enga. A pedido da organização do evento, elaborei um artigo detalhando o conteúdo da palestra, o qual deveria ser publicado numa coletânea com os artigos apresentados nas mesas redondas desse Encontro.

A palestra fazia refutações diretas e pesadas contra os mitos que povoam a geografia agrária brasileira, especialmente a suposição de que há necessidade de fazer uma "reforma agrária ampla e massiva" para resolver o problema da desnutrição (que praticamente já deixou de existir, mesmo sem essa política) e a falsa dicotomia agronegócio versus campesinato. Daí minha surpresa ao pensar que o artigo seria publicado na coletânea, sobretudo considerando que a editora com a qual estava sendo acertada a publicação era a Expressão Popular.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Rogério Haesbaert não admite, mas é um geógrafo crítico

Uma vez que a geografia crítica se tornou hegemônica, ninguém mais quer se assumir como um geógrafo crítico. Isso soa paradoxal, mas faz todo sentido. Se as teses fundamentais da geocrítica são aceitas por todos como verdades evidentes por si mesmas, que originalidade ou sofisticação pode haver no pensamento de um autor que se diz crítico ou radical? Por isso, é raro encontrar, além de uma Ana Fani Alessandri Carlos, quem continue a agitar a bandeira da geocrítica hoje em dia. 

Assim, falar em hegemonia da geocrítica significa dizer que mesmo autores que nunca se propuseram a desenvolver essa perspectiva reproduzem seus pressupostos essenciais. É o caso de Rogério Haesbaert. Ele trabalha quase exclusivamente com teóricos radicais, que incluem, além de Marx e Engels, uma gama de marxistas, pós-modernistas e ecléticos, tais como Milton Santos, David Harvey, Marcelo Lopes de Souza, Carlos Walter Porto Gonçalves, José de Souza Martins, Gilles Deleuze, Félix Gattari, Michel Foucault, Giorgio Agamben e Boaventura de Souza Santos (Haesbaert, 2006; 2004).

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Atraso e falta de ética científica não são exclusividades da geografia

O número mais recente da revista Estudos avançados, da USP, é a prova de que o atraso ideológico e os problemas éticos derivados da mistura de pesquisa científica com engajamento político não são males apenas da geografia, mas de toda a ciência social brasileira. Como relatam Leandro Narloch e Duda Teixeira, a edição 72 dessa revista traz o "Dossiê Cuba", uma coletânea de 15 "artigos sem nenhuma intenção científica e peças de propaganda escritas por pessoas ligadas ao governo cubano". 

sábado, 22 de outubro de 2011

Contra os idiotas, fatos e também o bom e velho mau humor

Estou lendo o livro A volta do idiota (Lexikon, 2007), que complementa o Manual do perfeito idiota latino-americano, publicado dez anos antes. Ambos foram escritos por Plinio A. Mendoza, Carlos A. Montaner e Álvaro V. Llosa, os quais desmontam as ideologias populistas e socialistas que fazem tanto sucesso aqui na América Latina, para desgraça da região. As armas de suas críticas são: conhecimento histórico, estatísticas socioeconômicas e, por fim, mau humor de qualidade (conforme já comentei noutro post). 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A China responde a Celso Furtado

É óbvio que o consumo de recursos naturais cresce à medida que a renda per capita em um país se eleva. Mas sempre é bom lembrar que, de acordo com o estudo que serviu de base para o famoso documento Os limites do crescimento, do Clube de Roma, essa relação entre as duas variáveis não é constante. Uma vez atingido um alto patamar de renda per capita, o consumo de recursos naturais por habitante já não cresce tão depressa, tendendo a estabilizar-se a proporção. 

sábado, 15 de outubro de 2011

O segundo erro dos "melancias"

Adaptar as contestações românticas à economia de mercado ao debate ambiental é um equívoco que os “melancias” complementam com outro, cuja ascendência remonta à teoria econômica de Marx. 

Esse autor encampou e manteve as críticas do romantismo à “sociedade burguesa”, mas isso não quer dizer que tenha parado por aí. Após elaborar sua teoria econômica, sobretudo em O Capital, Marx tinha em mãos argumentos bem mais sofisticados, e apresentados como científicos, para atacar o capitalismo. E uma das conclusões fundamentais dessa teoria é que a produção capitalista obedeceria a uma lógica de extração de mais-valia e de acumulação de capital como um fim em si mesmo. O caminho usado pelos intelectuais e ativistas de esquerda para adaptar essa tese à problemática ambiental é, assim, bastante simples e direto: sob o capitalismo, o crescimento econômico contínuo torna-se um objetivo em si, o que esbarra na finitude dos recursos do planeta e beneficia apenas uma minoria da população mundial. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

E Vesentini divulga esse primeiro erro

Basicamente, o ensino fundamental e o médio têm por objetivos transmitir os valores da cidadania, apresentar uma breve introdução a algumas teorias explicativas de fenômenos naturais e sociais e, por fim, desenvolver as habilidades cognitivas necessárias para que os alunos reflitam criticamente sobre essas explicações. Todavia, muito do que vai escrito nos livros didáticos são apenas ideologias políticas apresentadas aos alunos como se fossem verdades evidentes por si mesmas. 

domingo, 9 de outubro de 2011

O primeiro erro dos "melancias"

Como se sabe, “melancias” é o apelido jocoso daqueles que usam a questão ambiental como arma de luta ideológica contra o capitalismo, já que eles são verdes por fora, mas vermelhos por dentro. E eles bem que merecem o apelido, pois seus discursos apenas adaptam as velhas críticas éticas e morais contra a economia de mercado aos problemas de meio ambiente. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A crítica das esquerdas ao consumismo também é demagogia

Uma das ideias mais empregadas para culpar o capitalismo pela dita "crise ambiental" é que as grandes empresas estimulam o consumismo, ideologia que obriga ao uso de quantidades crescentes de recursos naturais para a produção de coisas desnecessárias. Mas, como eu expliquei no post anterior, essa tese passa ao largo da incapacidade de decidir como deveria ser definido o equilíbrio entre poder de consumo, uso de recursos naturais e realização pessoal numa sociedade pós-capitalista. O melhor exemplo disso está num trecho de uma entrevista que Milton Santos concedeu à revista Caros Amigos, conforme segue: 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O ambientalismo dos geógrafos é demagogia esquerdista

Um dos mantras que não param de ser repetidos pelos intelectuais e professores brasileiros é o de que o capitalismo é, em si mesmo, antiecológico. Na geografia, vemos isso nos escritos de Ana Fani Alessandri Carlos, Marcelo Lopes de Souza, José W. Vesentini, e de tantos outros autores. Ideia sempre repetida com a ligeireza de quem pensa estar enunciando uma verdade tão evidente que não precisa ser comprovada.