segunda-feira, 12 de março de 2012

O artigo que a Conhecimento Prático Geografia ignorou

Tempos atrás, uma pessoa que leu um artigo que publiquei no site Escola Sem Partido me convidou por e-mail a escrever um artigo sobre o problema da doutrinação no ensino de geografia, o qual saiu publicado na revista Conhecimento Prático Geografia. Não me ofereceram qualquer remuneração por esse trabalho, muito embora se trate de revista produzida por editora privada e vendida em bancas de jornal, e nem eu solicitei qualquer pagamento.

Bem, a primeira conclusão do artigo é que, como o sistema brasileiro de ensino foi estruturado sob a ditadura fascistoide de Getulio Vargas, a geografia escolar tradicional acabou sendo usada como instrumento de doutrinação patriótica, tal como os geógrafos críticos sempre denunciam. A segunda conclusão é que a geocrítica, embora se apresente como anti-doutrinadora, nada mais faz do que impor uma doutrinação teórica e ideológica de esquerda disfarçada por um discurso pluralista que não se realiza nos livros didáticos e nem nas salas de aula.

Até aí, tudo bem. Pouco tempo depois, fui convidado por outra pessoa que trabalha nessa revista, igualmente por e-mail, a escrever um artigo sobre os atentados de 11 de setembro numa perspectiva geográfica. Recusei o convite com o argumento de que não sou especialista no assunto - só faltava mesmo eu mudar meus temas de pesquisa para produzir artigos sob encomenda sem receber nem um tostão furado por isso! Contudo, me ofereci a publicar um novo artigo sobre o problema da doutrinação e, mais uma vez, sem pedir qualquer pagamento. Esse novo trabalho complementaria o primeiro fazendo uma análise dos inúmeros equívocos que os livros didáticos pautados pela geocrítica contêm. A pessoa ficou muito animada com a proposta e, assim, mandei-lhe o novo artigo. A resposta foi o silêncio... 

Por que será que nunca mais fizeram contato para tratar do novo texto? Não pode ter sido por má qualidade, já que ele dava continuidade a outro que a revista já tinha publicado. Talvez seja porque o novo artigo mostrava, com base em estatísticas oficiais, que os livros didáticos de José W. Vesentini estão repletos de incoerências, manipulação de dados e até erros grosseiros de conceituação e de interpretação de dados estatísticos. Eu até já mostrei um desses erros neste blog, como se pode ler aqui.

Se alguém tiver uma hipótese melhor para explicar o caso, que me conte. De minha parte, infiro que a revista tenha avaliado que os professores de geografia que compram a revista não ficariam satisfeitos em ver seu ídolo Vesentini ser criticado de forma tão contundente e com base em informações irrefutáveis. Isso tem tudo a ver com o que escrevi no post anterior sobre os meios materiais de divulgação de ideias, já que empresa privada publica revistas sempre de olho no mercado. Ah, essas contradições do capitalismo...

2 comentários:

  1. "Pouco tempo depois, fui convidado por outra pessoa que trabalha nessa revista, igualmente por e-mail, a escrever um artigo sobre os atentados de 11 de setembro numa perspectiva geográfica. Recusei o convite com o argumento de que não sou especialista no assunto ..."

    Bem, Diniz, tu já deves imaginar como isto ocorre nas redações e departamentos acadêmicos: o sujeito enxerta a teoria ou corpo ideológico do qual é adepto inconfesso e pontua aqui e ali com alguns fatos de conhecimento público (veiculados pela mesma "imprensa golpista" que acusam...). O negócio é simplesmente engrossar o coro e, por mais que se tente fazer o contraponto, a calúnia funciona como cinzas jogadas ao vento, que se disseminam facilmente, até porque a mentira tem características de bordão facilmente repetido.

    Mas, como disse Castro, "a história me julgará"... Só que no nosso caso, provavelmente, diferente dele.

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  2. Infelizmente, é assim mesmo que acontece. Jornalistas procuram sempre amparar seus textos em opiniões de especialistas, mas a forma como escolhem os tais "especialistas" é para lá de criticável. E estes, por sua vez, aproveitam a leviandade dos jornalistas para divulgar ideologias e calúnias disfarçadas de pesquisa séria. Lamentável...

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