domingo, 20 de maio de 2012

Conferindo o texto "O mensalão da imprensa"

Os professores universitários brasileiros concordam com tudo o que o PT faz, mesmo que isso implique discordar deles mesmos. Por isso, eles gostam de ler jornais, revistas e sites escancaradamente pró-PT (mesmo quando esses veículos não eram filopetistas no passado). Um exemplo disso é a revista Carta Capital. Sua tiragem é hoje bem pequena, mas os professores, que têm certo papel como formadores de opinião, gostam de ler aquilo, conforme já constatei em conversas com vários deles. 

Ora, aconteceu uns tempos atrás de eu tomar um chá de cadeira numa sala de espera de consultório onde havia uns números da Carta Capital. Por falta de opção, li algumas matérias que me fizeram lembrar de um artigo de Diogo Mainardi. Vejamos só os primeiros parágrafos:
O mensalão não é só para deputados. Há também o mensalão da imprensa. No último número da revista Carta Capital, quase 70% dos anúncios eram do governo federal. Lula sempre soube remunerar direito seus aliados. [...]
Lula, dois anos atrás, elogiou publicamente Carta Capital. Para ele, a revista “não praticava o denuncismo pelo denuncismo” porque “não se preocupava com o mercado”.
Quem conta com 70% de publicidade do Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa Econômica Federal realmente pode ignorar o mercado e os leitores (Mainardi, 2006, p. 131).
O artigo já tem vários anos, mas a revista nunca perdeu sua dependência do governo. Como a espera no consultório foi longa, resolvi pegar papel e caneta para anotar como o espaço de propaganda era ocupado em três edições recentes disponíveis. Aí está o que apurei: 

Edição n. 685, ano 17, 22 fev. 2012. Essa edição era bem magra, com apenas 66 páginas. Os anunciantes eram Chevrolet e Caixa Econômica Federal, com duas páginas cada um. 

Edição n. 673, ano 17, 23 nov. 2011. Essa edição saiu com 90 páginas e uma variedade bem maior de anunciantes. Ainda assim, os anúncios bancados total ou parcialmente por ministérios e estatais do governo federal, além de uma prefeitura, ocupavam 12 das 23,5 páginas de espaço publicitário. 

Edição n. 636, ano 16, 09 mar. 2011. Outra edição esquálida, com apenas 65 páginas. Das 8 páginas com anúncios, metade era ocupada com uma homenagem da Caixa Econômica Federal ao Dia da Mulher... 

Como se vê, metade do espaço publicitário dessas três edições recentes eram pagas pelo governo Federal, por meio de estatais e ministérios. Em alguns casos, o patrocínio era de empresas privadas, mas o anúncio se referia a ações desse governo. Exemplo disso era a propaganda da peça As bruxas de Eastwick, resultado de uma parceria do Ministério da Cultura e Cielo, e com patrocínio de Porto Seguro e Bradesco. 

Enfim, os números sugerem que Mainardi tem razão. Ah, antes que eu me esqueça, menciono que a seção Retratos Capitais do n. 673 trazia uma grande foto de Lula com a cabeça raspada e a legenda: “o efeito dos remédios não abala o cidadão de fibra”...

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MAINARDI, D. O mensalão da imprensa. Veja, edição n. 1955, ano 39, n. 18, 10 maio 2006.

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