domingo, 29 de julho de 2012

Flagrante de aparelhamento sindical e peleguismo nas universidades federais

O blog Acerto de Contas acaba de publicar cópia de um e-mail redigido por militante do PCdoB quando articulava a instituição de um sindicato pelego para professores das universidades federais. O e-mail "mostra a participação dos ex-presidentes da Adufepe, Jayme Mendonça e Audisio Costa, na formação do aparelho paralelo que o Governo está tentando montar na estrutura sindical das universidades". A expectativa manifesta no e-mail é que esses dois professores conduzam a Adufepe a “desembarcar” na Federação Nacional dos Professores Federais (ou algum outro nome que essa entidade venha a ter). Se conseguirem isso, terão direito a um cargo...


Mas não vou ficar fazendo resumo nem do texto, nem do e-mail que mostra as entranhas do aparelhamento dos sindicatos por um partido. Vou apenas reproduzir o comentário postado por um certo Filipe Spencer naquele blog, o qual revela muito das mazelas da universidade e da política sindical no Brasil. Vejamos:
Eu não gosto do PC do B. Discordo da avaliação de conjuntura deles, das táticas utilizadas e da política apresentada.

Agora, meu deus do céu, que purismo moralista é esse?

O que o PC do B fez de tão “escroto” o próprio PSTU – partido dirigente da CONLUTAS – fez com a UNE, ao formar ANEL – também dirigida pelo PSTU. É a avaliação tática de que o instrumento é limitado e a necessidade de construir outro. Simples assim.
Esse blog sabe como as coisas acontecem na política real e, as vezes, parece esquecer desse detalhes.
Por outro lado, se a crítica fosse quanto a POLÍTICA governista do PROIFES estaria perfeito. De fato, a postura do PROIFES, hoje, é de submissão aos interesses governamentais, sem respeito a categoria.
Por favor, críticas políticas. Sem moralismos.
Como se percebe, o Filipe não vê nada de errado no aparelhamento partidário da UNE, da ANEL e dos sindicatos. Ele apenas discorda das táticas e da avaliação de conjuntura do PCdoB, além de repudiar a submissão do PROIFES aos interesses do governo. Mas o aparelhamento em si mesmo seria uma prática política absolutamente normal, de sorte que a rejeição ao aparelhamento só poderia vir de um "purismo moralista", não de uma crítica política.

Mas a grande verdade é que, bem ao contrário do que ele pensa, o primeiro e mais importante motivo para rejeitarmos o aparelhamento é de ordem política mesmo! De fato, se um sindicato existe para representar politicamente os interesses profissionais de uma categoria de trabalhadores, mas acaba virando instrumento dos interesses e táticas de um partido, isso significa que sua função política foi deturpada. O mesmo ocorre com entidades de representação estudantil: se elas existem para representar os interesses dos estudantes, mas são postas a fazer política de acordo com a "avaliação de conjuntura" de um determinado partido, então não se pode dizer que elas estejam representando adequadamente os interesses de seus filiados!

Esse desvio de função das entidades representativas é condenável politicamente porque solapa a democracia. Isso ocorre na medida em que interesses sociais específicos deixam de ter representação adequada, enquanto interesses partidários, como os eleitorais, interferem em relações institucionais que existem para tratar de problemas que não são partidários e muito menos eleitorais!

Nesse sentido, é contraditório opor a crítica "moralista" à política e depois reclamar que o governismo do PROIFES leva essa entidade a não ter "respeito" pela categoria dos professores, como escreve o Filipe. Ora, se é correto subordinar um sindicato às "táticas" e à "avaliação de conjuntura" deste ou daquele partido, a ideia de que esse sindicato deve ter "respeito" pela categoria não faz o menor sentido, pois entende-se que a função principal de um sindicato não é representar interesses profissionais!

Além disso, cabe notar que a crítica de ordem ética também é perfeitamente cabível, ao contrário do que ele pensa. Afinal, sempre que um governo afirma que determinada greve é política, os líderes sindicais são os primeiros a reclamar publicamente, e de forma indignada, que isso é mentira, que a greve tem motivações trabalhistas. O mesmo ocorre quando a direção de um sindicato é aparelhada por partido governista e se opõe à realização de uma greve: acaba sendo forçada a mentir para os filiados dizendo que essa oposição se deve a questões táticas, não a interesses partidários. Portanto, recurso a mentiras como essas acaba sendo uma necessidade política incontornável, pois a admissão pública do caráter político-partidário das decisões implicaria deslegitimá-las perante os membros dessas organizações e da própria opinião pública. 

Em resumo, se o desvio das funções de representação dos sindicatos e organizações de estudantes só se sustenta à custa de mentiras contadas à opinião pública e aos seus supostos "representados", conclui-se que o aparelhamento partidário é politica e eticamente condenável, pois incompatível com a democracia.

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