terça-feira, 3 de julho de 2012

Rio+20 foi um fracasso. Ainda bem?

Está claro que a Rio+20 fracassou. Digo isso não tanto pelas manifestações de decepção com a falta de "ousadia" das propostas, as quais foram dos "ongueiros" de sempre, passando pelo secretário-geral da ONU até chegar à Angela Merkel. Afinal, esse tipo de reação decepcionada já era muito mais do que previsível. O que atesta o fracasso do evento é o fato de que o próprio governo brasileiro afirmou que ele foi bem-sucedido porque, ao invés de um esperado retrocesso, mantiveram-se as conquistas da Rio 92.

Francamente! Pouco antes do evento, alardeava-se por aí que esta seria a grande oportunidade para "salvar o mundo", "decidir nosso futuro" e assim por diante. Mas, como não se decidiu nada de muito concreto, começaram a dizer que ficar como estava antes já foi sucesso. Nada atesta melhor o fracasso do que isso.


Bem, mas então o mundo irá mesmo à breca, já que não se avançou nada? A resposta lógica a extrair da comparação entre os discursos salvacionistas que antecederam a Rio+20 e os resultados desta deveria ser "sim". Agora, se, apesar daqueles discursos, for verdadeira a afirmação de que manter as coisas mais ou menos como estavam já constituiu uma vitória, então é lícito sugerir que a Rio+20 avançou pouco simplesmente porque os diagnósticos catastrofistas que justificaram a sua realização eram, no mínimo, exagerados. 

Tomemos um exemplo para checar essa hipótese. O aquecimento global é, de todos os temas ambientais, aquele que tem gerado os diagnósticos mais aterradores para o curto, médio e longo prazos. Diz-se com frequência que, se nada for feito para reduzir as emissões de carbono, o desastre vai se abater ainda nesta geração. Mas, conforme um post que publiquei estes dias, a inação que se seguiu à assinatura da convenção sobre o clima, na Rio 92, pode ser explicada pelo fato de que as temperaturas médias do planeta já deixaram de subir há dez ou quinze anos, embora as emissões de carbono estejam batendo recordes históricos! Sendo assim, devia ser previsível que a Rio+20 acabaria "avançando" pouco ou nada nesse quesito, como de fato aconteceu.

Nesse contexto, ao invés de nos descabelarmos, como fazem certos ongueiros e artistas bem-intencionados, talvez fosse melhor começarmos a refletir se o dito "fracasso" não foi, na verdade, uma vitória da prudência contra o alarmismo descolado dos fatos e a demagogia de políticos que usam esse alarmismo para fazer bonito diante de eleitores e para tungar ainda mais os contribuintes. 

Essa é a razão de o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ter voltado atrás nas críticas que fez ao relatório final da Rio+20 e de o governo brasileiro dizer que não ter havido "retrocesso" já foi uma vitória: assim, a mesma combinação de alarmismo e otimismo que justificou as duas conferências no Rio pode continuar sendo usada pelos políticos para justificar a imensa burocracia montada para defender o futuro do planeta às custas dos contribuintes dos países desenvolvidos.

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