terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mino Carta é o Sarney do jornalismo

No post A culpa da nossa direita, eu citei José Sarney como exemplo de político que só pode ser considerado "de direita" e "conservador" num país como o Brasil, onde o liberalismo nunca teve muita vez. Afinal de contas, como é que um político pode receber qualquer qualificativo ideológico que seja se, em mais de quarenta anos de vida pública, esteve sempre do lado do governo, fosse qual fosse, e sempre a entupir a máquina estatal com parentes seus e aliados políticos indicados para cargos de confiança? 

Todavia, esse preâmbulo é só para dizer que eu sei, nem faz tanto tempo, que também no jornalismo é possível encontrar gente que só parece ter coerência ideológica para quem não conhece toda a sua trajetória. É o caso de Mino Carta. Em meados da década de 1980, eu fui assinante da Revista IstoÉ/Senhor por três anos. Deixei de ser por avaliar que a revista apoiava o então governador de São Paulo, Orestes Quércia, sem o devido compromisso com a objetividade. Todas as matérias eram elogiosas além da conta, e as mil denúncias que pipocavam contra o governo paulista tinham pouco destaque ou eram descartadas com artigos nos quais as evidências contra as denúncias podiam ser apenas declarações do eventual acusado, tomadas como verdadeiras mesmo sem qualquer apuração jornalística. 


Nessa época, os editorais de Mino Carta viviam a expor o que seria a diretriz para a construção de uma agenda de esquerda moderna, ou "contemporânea do mundo", como ele escrevia. Seria um projeto de reformas econômicas que aceita a economia de mercado, mas entende que "mercado forte só existe com Estado forte", como se lia na revista. Eu achava então que as críticas dele e da publicação ao PT, bem como o apoio a Quércia (malgrado a terrível irresponsabilidade fiscal desse governo, entre muitos outros defeitos), se devia à adesão ideológica a um projeto que se poderia chamar de "desenvolvimentismo de esquerda".

À luz dessa trajetória, a aproximação de Mino Carta de Lula e do PT, em 2002, poderia ser explicada pelo fato de esse partido haver abandonado o radicalismo sem ter deixado de ser de esquerda, certo? Poderia, mas somente se, na primeira metade da década de 1970, quando Mino Carta era editor da Revista Veja, ele não tivesse publicado tantos editoriais em apoio à ditadura militar, inclusive com elogios à famigerada Operação Bandeirante - Oban, encetada naquele período para prender e torturar inimigos do regime!

Não, as ideias de Mino Carta não têm coerência ideológica nenhuma. O que lhes dá coerência é apenas o governismo, exatamente como ocorre com políticos feito José Sarney, o qual também começou apoiando a ditadura e terminou no colo de Lula e do PT. 

Ah, antes que eu me esqueça: Paulo Henrique Amorim é outro Sarney. Apoiou todos os governos, desde a ditadura militar, passando por FHC, até os governos petistas!

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