sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Associação dos Professores da UFPR já me roubou três vezes!!

Pouco depois de ingressar na carreira docente, filiei-me à APUFPR. Acho que não deu nem dois meses para eu ir lá na sede da entidade solicitar minha desfiliação. Quando me perguntaram o motivo, falei que estava com pouco dinheiro, mas que voltaria a me filiar quando as coisas melhorassem. Era a mesma mentira que eu conto sempre que desejo dispensar um produto ou serviço sem dar explicações(*). A verdade é que eu me desinteressei do sindicato por não concordar com nada do que eles defendem (algo que eu confirmei plenamente ao ler os boletins informativos que me entregavam) e também porque a associação não oferecia nenhuma vantagem prática. Nem um plano de saúde com preços melhorzinhos eles ofereciam.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Marcos Valério nos dá nova chance de democratizar as instituições. Mas é pouco provável que aconteça

Conforme expliquei em posts anteriores, o escândalo do mensalão não significou nada em termos de consolidação da democracia ou das instituições brasileiras, visto que, de um lado, o sistema político protegeu-se de qualquer depuração que pudesse resultar das investigações e, de outro, o Ministério Público Federal - MPF, recusou-se a utilizar a prisão preventiva e a delação premiada para produzir provas concretas da montagem da "sofisticada organização criminosa" denunciada. O resultado é que quase nenhum das dezenas de políticos acusados de receber suborno e/ou de outras ilegalidades teve o mandato cassado pelo Congresso, não houve abertura de processo de impeachment contra Lula por conta das ilegalidades comprovadas nos gastos de sua campanha eleitoral e, por fim, a denúncia do MPF deixou Lula de fora do banco dos réus. Para piorar, a qualidade do Supremo Tribunal Federal - STF foi reduzida com as nomeações de Dias Tofolli e de Ricardo Lewandowski, ambos indicados por Lula e aprovados pelo Senado, conforme visto.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Islã precisa de reforma religiosa, mas isso é lá com eles

Escrevi recentemente um post para homenagear a revista Primeira Leitura, o qual comentava um texto publicado nessa revista acerca da história das Cruzadas (ver aqui). Coincidentemente, poucos dias depois, irrompeu uma onda de fúria nos países muçulmanos por conta de um filmeco que critica e ridiculariza Maomé. E logo apareceram artigos na imprensa clamando para que os ocidentais não caiam na armadilha da "islamofobia", chamando a atenção para o fato de que a maioria dos muçulmanos são pessoas comuns, que querem trabalhar, cuidar de suas próprias vidas, e que essa maioria não pode ser confundida com uma pequena parcela de fanáticos.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Por que tratar de política aqui. Ou: por que a maioria não aprende com a realidade?

Pode parecer estranho ficar tratando de política num blog que, conforme está dito logo aí em cima, se destina a dar tomatadas na geografia e no sistema de ensino atuais. Mas não é. A predominância de teorias e ideologias anticapitalistas nas ciências sociais e em nosso sistema de ensino faz com que inexista, por definição, quaisquer distinções entre posicionamentos político-ideológicos, propostas de políticas públicas e opções teórico-metodológicas em nosso universo acadêmico. 

Quem diz isso nem sou eu, mas os próprios autores que eu critico aqui. Aqueles que se inspiram em gente como Paulo Freire e Milton Santos são justamente os primeiros a dizer que é impossível separar ciência, educação e ideologia e a acusar os intelectuais que deles discordam de serem “ideólogos”, “de direita”, “neoliberais”, etc. Nesse sentido, a refutação da teoria social crítica e da pedagogia freiriana tem necessariamente de mostrar, pela análise da crise política das esquerdas, o elevado grau de dogmatismo, autoritarismo, simplismo e incoerência que acomete essas correntes. Afinal, não são os autores dessa estirpe que falam da necessidade de "colar" a reflexão teórica à prática? 

domingo, 16 de setembro de 2012

Geografia física não prova que o capitalismo é antiecológico coisa nenhuma!

Algumas pessoas ficaram irritadas quando eu comparei os autodenominados "intelectuais militantes" com os criacionistas (aqui). Mas é só ler os textos e posts publicados neste blog para encontrar inúmeras demonstrações de como os pesquisadores e professores selecionam bibliografias e informações com o fim deliberado de comprovar que as teorias e ideologias anticapitalistas estão certas.

Ainda assim, se alguém achar que continua faltando provas disso, recomendo que leia o texto Geografia e dialética, de Raymond Guglielmo. Ele não é considerado um geógrafo crítico, pois pertencia à corrente denominada "geografia ativa". Mas, francamente, uma das poucas diferenças significativas que se vê entre as ideias expostas por ele e os pressupostos fundamentais da geocrítica é que ele ainda mantinha a visão clássica da geografia como ciência simultaneamente natural e humana, ao passo que os geocríticos afirmavam ser essa uma ciência social mesmo (Diniz Filho, 2003). Tirando isso, o uso que Guglielmo fazia do marxismo era em tudo compatível com o uso feito pelos geógrafos críticos. É o que se vê na sua presunção de que as teorias marxistas têm uma eficácia explicativa quase óbvia e na concepção maniqueísta de que qualquer negação dessa verdade só pode ser fruto de má-fé. Vejamos as palavras dele:

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ou os europeus são burros, ou a produção agrícola familiar pode ser dispensável

Uma coisa intrigante quando lemos os estudos que tratam da agricultura como atividade econômica é que muitos autores afirmam categoricamente que o agricultor familiar é mais produtivo do que o patronal. Asseguram que os pequenos proprietários fazem uso mais eficiente dos recursos, sobretudo da mão de obra, e que produzem mais por unidade de área. E, ainda assim, esses mesmos autores clamam por ajuda para os pequenos produtores, exigindo que o Estado lhes dê assistência técnica, financiamento a juros baixos, mercado cativo (como o de produtos para merenda escolar), subsídios de preço, barreiras à importação de alimentos, e por aí vai. Mas não é estranho que o setor mais eficiente e produtivo precise tanto que o Estado lhe conceda benefícios de toda ordem, mesmo que a fundo perdido, para não desaparecer?

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Relendo "Primeira Leitura" e a história das Cruzadas

No post anterior, citei uma entrevista antiga de José Arthur Giannotti à revista Primeira Leitura, uma publicação cujos temas centrais eram política, economia e pensamento. Foi uma grande pena o fechamento dessa publicação, já faz alguns anos. Quando terminei de escrever aquele post, me pus a folhear a revista e fiquei com saudades. Estava lá um excelente artigo do filósofo Roberto Romano sobre os conceitos de golpe de Estado e razão de Estado, além de vários textos muito bem escritos e fundamentados sobre política brasileira e internacional, economia, geopolítica, história e cultura, entre outros assuntos.

Assim, me veio a vontade de falar agora de um artigo em que o jornalista Hugo Estenssoro (2005) comenta as pesquisas históricas que, nos últimos anos, puseram abaixo as interpretações ensinadas em nossas escolas a respeito das Cruzadas. Ele começa ridicularizando o filme Cruzada, de Ridley Scott, o qual procuraria defender a tese de que os muçulmanos da época, liderados por Saladino, criaram uma civilização multicultural na região da Palestina que acabou sendo abortada pelo "extremismo cristão". 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Corrupção: sistema político se protege quando não investiga e também quando pune

Como eu tenho dito, não trato de corrupção fazendo pose de moralista, pois procuro pensar esse problema de forma analítica. Faço isso por entender que somente o aprimoramento das instituições pode efetivamente coibir a corrupção, posto que exortações morais não podem dar consciência a políticos capazes de armar falcatruas gigantescas, como se viu no caso do mensalão. A utilidade dessas exortações é motivar as pessoas a irem para a rua protestar contra a impunidade, conforme já aconteceu várias vezes nos últimos anos, e aí reside a sua importância positiva. Mas o papel de um acadêmico não é "pôr a massa na rua", tal como pensam os "intelectuais engajados", e sim analisar os problemas políticos. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Até Fani entreviu o que Ruy Moreira não enxergou

Em um texto que fazia o balanço de dez anos do advento da geografia crítica ou radical, Ruy Moreira (um dos muitos geógrafos marxistas que hoje renegam esse rótulo, mas sem abandonar o anticapitalismo velho de guerra) faz uma avaliação muito interessante sobre os limites dessa renovação científica:
[...] o conceito de espaço não evolui acompanhado da criação de uma linguagem de representação espacial renovada e o olhar cartográfico fica fora da renovação geográfica. E isso é o que fica evidente agora na ida ao campo.
O que é paradoxal, porquanto um rico e forte momento de reflexão sobre o conceito de espaço, que busca justamente precisá-lo de um modo teórico-metodológico claro e operacional [...] está em curso na renovação, clamando pela sua conversão em linguagem concreta de representação cartográfica. Uma conversão que não houve (Moreira, 2000, p. 43).