sábado, 30 de março de 2013

Geografia escolar despreza a boa ideia de Yves Lacoste

No meio de tanta bobagem esquerdista que escreveu, o geógrafo Yves Lacoste (foto ao lado) brindou-nos com uma crítica bem pertinente à geografia regional clássica: a de que as "regiões" mapeadas por Vidal de La Blache e seus seguidores não eram entidades concretas, tal como eles acreditavam, mas apenas o resultado de um modo específico de dividir a superfície terrestre com base em certos critérios. Por isso, Lacoste acusava o estudo regional clássico de levar as pessoas a acreditar que há uma forma única de dividir o espaço em "regiões", quando o conceito de região é apenas uma "ferramenta de conhecimento" que o pesquisador usa para estudar a "espacialidade diferencial" de cada fenômeno. Seria preciso, então, trabalhar com diversas formas de regionalização do espaço, e explicitar bem a utilidade teórica e política de cada critério de divisão regional utilizado, para chegar a explicações de caráter científico da espacialidade diferencial e para orientar as atividades de planejamento (Lacoste, 1989).

quarta-feira, 27 de março de 2013

Precisamos de um Denys Arcand para filmar as mazelas do Estado brasileiro

O canadense Denys Arcand é uma figura bem difícil de encontrar: um esquerdista que tem autocrítica! Já assisti a dois filmes desse diretor, roteirista e produtor de cinema, ambos com um forte componente autobiográfico, conforme ele esclarece em suas entrevistas. As duas obras fazem uma reflexão sobre o mundo contemporâneo que, mesmo sem abrir mão de uma perspectiva crítica do capitalismo, é muito sincera, e até comovente, ao desnudar as inúmeras frustrações da esquerda intelectual, seja nos campos teórico, político, profissional e até pessoal. 

sábado, 23 de março de 2013

Racialismo tenta apartar brancos, negros e pardos, mas é difícil

Comentei no post O Haiti não é aqui que, se nunca houve políticas de segregação racial no Brasil, foi devido à nossa forte miscigenação. E é óbvio que essa miscigenação só é possível graças à convivência de brancos e negros nos locais de trabalho, de moradia e, o que é mais importante, nos mesmos círculos de amizade. Mas o mundo dá muitas voltas, e quem tenta separar brancos, pretos e pardos, hoje, são os racialistas, ou seja, aqueles que insistem em ver o Brasil como um país clivado pelo racismo e que, no intuito de combater esse mal, agem de forma racista! A ironia disso é que, assim como teria sido muito difícil e imprudente segregar as pessoas com base em critérios raciais num país miscigenado, também não é fácil valorizar a cultura negra como se os brancos estivessem excluídos dela. É o que mostra um texto que Reinaldo Azevedo escreveu sobre a discriminação racial na Funarte, o qual reproduzo abaixo.

Boa leitura!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Cabeça de sindicalista

Faz alguns anos, eu estava conversando com um professor que também atua na gestão de um sindicato dessa categoria e flagrei um, como direi?, paradoxo muito revelador. Ele começou malhando os cursos de pós-graduação à distância, que, segundo ele, são de baixa qualidade, ou até picaretagem mesmo. Não acho que seja justo falar como se todos os cursos à distância fossem ruins, mas é certo que a qualidade de muitas dessas pós-graduações à distância (e não só as particulares, como também as públicas) merece ser questionada mesmo. Mas o interessante foi que, mais para o final da conversa, quando já estávamos falando de outros assuntos, ele contou que muitos professores do Paraná fizeram cursos de pós-graduação à distância cujos diplomas não são reconhecidos pelo MEC, o que os levou a solicitar ao sindicato que entrasse na Justiça para forçar o MEC a reconhecer tais diplomas. Veio então o comentário, feito com um sorriso meio amarelo: "é, eu mesmo sou contra esses cursos, mas sindicato tem que defender os interesses dos associados; então, já que eles pediram...". 

sábado, 16 de março de 2013

Cota social pune os pobres que realmente merecem entrar para a universidade

O fator mais importante para o ingresso de pessoas de origem pobre nas universidades é a disposição das famílias para investir em educação, mesmo que isso implique fazer pesados sacrifícios para poupar dinheiro, e cobrar dos filhos resultados na escola.

Como já escreveu Claudio de Moura Castro, os descendentes de japoneses representam só 0,5% da população brasileira, mas chegam a ocupar cerca de 20% das vagas em alguns dos cursos mais procurados das universidades, especialmente na área tecnológica. Os asiáticos conferem uma importância extrema à educação e, por isso, fazem sacrifícios para que seus filhos estudem em boas escolas privadas e exigem deles uma dedicação à altura do investimento. Não é à toa que os dados dos Censos Demográficos e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, demonstram que os amarelos têm mais anos de estudo do que os brancos e, por isso, recebem salários bem mais altos (ver aqui). 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Capitalismo é a melhor solução para a fome, mas os marxistas não querem ver

A geografia tradicional é sempre muito acusada, inclusive pelos geocríticos, de ser puramente empirista, descritivista. Sendo assim, os geógrafos críticos, supostamente, deveriam interpretar as informações empíricas com base num referencial teórico-metodológico rigoroso, de maneira a elaborar e provar teorias científicas. Mas a realidade é bem outra. Tal qual a maioria dos marxistas, os geocríticos se enxergam como intelectuais militantes e, assim, procedem como os criacionistas: selecionam e produzem informações empíricas conforme for necessário para dar uma aparência de comprovação a teses estabelecidas de antemão pelo pesquisador (ver aqui).

sexta-feira, 8 de março de 2013

O Haiti não é aqui

Durante o mestrado, pesquisei as obras de vários intelectuais brasileiros que, das décadas de 1920 a 1940, tiveram importância como precursores das ciências sociais brasileiras e/ou influência na política nacional, entre os quais estavam Azevedo Amaral e Oliveira Vianna. Faziam parte do que se pode chamar "pensadores autoritários brasileiros", grupo que pensava o Brasil com o objetivo de identificar as causas do nosso "atraso" e de propor soluções que passariam pela instauração de um Estado forte, como foi a ditadura Vargas. Nesse sentido, uma ideia comum a esses autores citados, bem como à maioria dos intelectuais da época, era a de que grande parte do "atraso" brasileiro em relação à Europa se devia à suposta inferioridade de negros, índios e mestiços (Diniz Filho, 2002). E a força dessa visão nos meios intelectuais do país extrapolava o universo do pensamento autoritário - como se vê na obra de Sérgio Buarque de Hollanda - e alcançava até os livros didáticos de geografia, conforme comentei aqui.

terça-feira, 5 de março de 2013

Millôr usou Sófocles para atirar em Collor e acertou Dirceu em cheio!

O livro O humor nos tempos do Collor (L&PM, 1992) traz uma coletânea de textos de Millôr Fernandes, Jô Soares e de Luís Fernando Veríssimo sobre o governo desse presidente que, pela primeira vez na história brasileira, foi apeado do cargo por vias rigorosamente constitucionais. O texto de que eu mais gosto nesse livro não é humorístico, porém. Trata-se de Antígona, de Sófocles, no qual Millôr reproduz uma passagem dessa famosa peça teatral.

sábado, 2 de março de 2013

Viúvas e petralhas diante da corrupção sistêmica

Um leitor pediu que eu avaliasse, na área de comentários do post Dez anos de imposturas intelectuais e imprensa dependente, um texto publicado no Facebook. É um texto que só pode ter sido escrito por uma viúva da revolução ou por um petralha. A resposta ficaria muito longa, então achei melhor escrever um post. Vejamos o início do comentário: