sábado, 16 de março de 2013

Cota social pune os pobres que realmente merecem entrar para a universidade

O fator mais importante para o ingresso de pessoas de origem pobre nas universidades é a disposição das famílias para investir em educação, mesmo que isso implique fazer pesados sacrifícios para poupar dinheiro, e cobrar dos filhos resultados na escola.

Como já escreveu Claudio de Moura Castro, os descendentes de japoneses representam só 0,5% da população brasileira, mas chegam a ocupar cerca de 20% das vagas em alguns dos cursos mais procurados das universidades, especialmente na área tecnológica. Os asiáticos conferem uma importância extrema à educação e, por isso, fazem sacrifícios para que seus filhos estudem em boas escolas privadas e exigem deles uma dedicação à altura do investimento. Não é à toa que os dados dos Censos Demográficos e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, demonstram que os amarelos têm mais anos de estudo do que os brancos e, por isso, recebem salários bem mais altos (ver aqui). 


Mas isso não significa que somente os asiáticos agem dessa forma, é claro, pois há famílias pobres ou remediadas de outras origens que, muito embora se esforcem para dar a seus filhos a melhor educação possível, estão sendo punidas pela política de cotas sociais. É o que demonstra uma excelente matéria da jornalista Natália Spinacé, intitulada No limbo das cotas. Abaixo, reproduzo os parágrafos iniciais:
O taxista Alexandre de Oliveira, de 41 anos, e a dona de casa Márcia da Luz Oliveira, de 46, tentaram colocar as filhas Drielly, de 17, e Isabele, de 10, numa escola da rede pública perto do bairro onde moram, em Guarulhos, São Paulo. Mudaram de ideia quando, num dia de chuva, foram chamados à escola para buscar a filha mais velha, na época com 6 anos. "A sala de aula estava inundando, e ela estava em cima da mesa, fugindo da água", diz Márcia. "Depois disso, resolvemos que nos sacrificaríamos para dar condições melhores para nossas filhas estudarem e garantirem uma vaga numa universidade pública." Para pagar o colégio particular e o curso de inglês das duas filhas, Alexandre trabalha 15 horas por dia. A longa jornada é mantida há dez anos e, segundo ele, afeta sua saúde. Alexandre tem dores crônicas nas pernas e está acima do peso. A casa onde a família mora é alugada, e os momentos de lazer são poucos. "A prioridade sempre foi a educação das meninas, e, para isso, abrimos mão de muita coisa", diz Márcia.
O esforço de Alexandre e Márcia para garantir a suas filhas o acesso a uma boa universidade pode ter sido em vão. Com a entrada em vigor da lei de cotas sociais, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em agosto do ano passado, os alunos que fizeram o ensino médio na rede pública têm agora mais chances de conseguir uma vaga em universidades públicas federais.
Defender que o mérito seja o critério definidor das chances de ingresso na universidade não é apenas uma forma de premiar o aluno que se esforça, mas também uma recompensa para as famílias que se esforçam. A política de cotas é perversa por reduzir as chances de ingresso dos alunos cujos pais, embora pobres, pouparam o que tinham e o que não tinham para que eles estudassem em escolas que nem são das melhores da rede privada, mas que ao menos oferecem uma boa infraestrutura. É bem o exemplo do casal citado na matéria. Agora, suas filhas terão de disputar um número reduzido de vagas com os alunos de classe média e alta, os quais estudaram em escolas privadas de primeira linha às quais elas não tiveram acesso mesmo com todo o sacrifício que seus pais fizeram. Muito injusto!

3 comentários:

  1. Caro Diniz, cotas sociais e raciais são medidas que acabam fragmentando ainda mais as classes economicamente menos favorecidas, e segregando ainda mais a população. É como curar a ressaca de sábado no domingo tomando mais cerveja!

    Até mais e continue com seu excelente trabalho!

    att. Jgeo

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  2. Cota social só segrega mais a cabeça de quem adora o pais racista em que vivemos. Quem tem nojo de sentar do lado de gente de outras classes sociais. O que realmente segrega são coisas como vestibular, escolas particulares, meritocracia trabalhista e estudantil. De resto, é o racismo acusando de racismo seu proprio racismo.

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    1. Fiz o antigo pré-primário e todo o ensino fundamental numa mesma escola, que era particular. E sempre havia alunos negros e mulatos na minha sala. Por sinal, um dos meus melhores amigos, ao longo de todo esse período, era mulato. No ensino médio, estudei em escolas públicas e, de novo, lá estavam alunos de todas as raças. Nesse período, o melhor amigo que eu tive era descendente de índio.

      E na USP? Encontrei lá pessoas de todas as raças, como sempre. Foi nessa época que, por intermédio de uma amiga de faculdade (que era nissei), conheci a minha esposa, a qual, conforme consta na certidão de nascimento dela, é parda! Daí que o cabelo crespo do meu filho revela suas origens tanto européias quanto africanas.

      No Brasil, nunca houve leis de apartheid, e o racismo nunca impediu o acesso à educação - nem na rede pública, nem na particular. Por isso, as pesquisas mostram que a participação de brancos, negros e pardos na universidade é a mesma do conjunto da população. Minha experiência pessoal serve de exemplo para ilustrar as pesquisas.

      Nesse sentido, racista é a política de cotas, já que classifica as pessoas segundo um critério racial e ainda dá incentivos econômicos para que as pessoas se classifiquem dessa forma. Se "raça" não é uma categoria biológica, então o Estado não deveria classificar ninguém assim.

      Já dizer que meritocracia "exclui" é uma sandice, pois significa que premiar as pessoas que se esforçam mais seria uma "injustiça" com aquelas que se esforçam menos! É bem o que se vê na matéria comentada acima: os pobres que fizeram sacrifícios enormes para colocar os filhos em escolas particulares são prejudicados pelas cotas sociais, enquanto os acomodados ganham vantagens e ainda se dão ao desfrute de dizer que é para compensar as "injustiças" do mundo...

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