segunda-feira, 27 de maio de 2013

Alunos preguiçosos praticam o socialismo sem saber (é, eu já fui aluno...)

Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, tive o primeiro contato com a geografia crítica. A professora não usava livro didático, não aplicava prova e dava poucas aulas expositivas. Quando fazia uma exposição, ficava só comentando assuntos políticos e econômicos do momento à luz de suas ideologias esquerdistas. No mais das vezes, organizava debates, sendo que a classe era dividida em dois grupos, um contra e outro a favor de determinada ideia ou proposta. Creio que o primeiro debate de todos foi "capitalismo versus socialismo". Houve um outro que tratava sobre pagar ou não pagar a dívida externa. Ao fim de cada debate, ela fazia um comentário sobre a discussão, posicionando-se. Assim, ficamos sabendo que ela era marxista, socialista e petista. Tudo bem ao gosto de um Paulo Freire da vida, autor do qual ela falava como se fosse um gênio. Mas, de geografia mesmo, não falou patavina.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A "redoma de vidro" do capitalismo brasileiro

Respondi a um comentário articulado e bem informado ao texto Joelmir Beting e as raízes da desigualdade brasileira, e avaliei que essa discussão merecia ganhar destaque numa postagem própria. Vejamos o texto do comentário e, em seguida, a minha resposta.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Marilena Chaui acusa a classe média de ser o que o PT é

Quando eu entrei na universidade, já me dizia marxista - também, pudera!, tudo o que minhas professoras de história e de geografia do ensino médio me ensinaram foram teorias marxistas. Daí que, ao tomar contato com as ideias de Marilena Chaui, minha primeira impressão foi positiva. Quem começou a desfazê-la, já na graduação, foi Antonio Carlos Robert de Moraes, meu professor e orientador de iniciação científica e de mestrado. Embora ele também fosse marxista, alertava que as pessoas não se davam conta de que existem duas Marilenas Chaui: uma é a filósofa da USP que se dedicava a escrever calhamaços sobre Espinosa; a outra é a militante petista que participa do debate político nacional. A primeira é uma intelectual competente, mas a segunda se alinha com tudo o que o marxismo já produziu de mais simplificador e obscurantista.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sobre "Os párias do quatrilhão"

BARROS, et. al., 2006, p. 107

A série acima demonstra que, embora a concentração de renda seja muito alta, no Brasil, o maior pico da desigualdade se deu no ano de 1989, quando o índice de Gini atingiu 0,634. Não por acaso, esse foi o ano em que a via crúcis da crise inflacionária chegou ao ápice, com a inflação anual atingindo 1.783%. Por conta disso, Joelmir Beting (1996) concluiu que a explicação para o fato de o Brasil ter chegado a figurar como o país de mais alta desigualdade de renda no mundo, segundo estudos do Banco Mundial, ligava-se diretamente à persistência de altas taxas de inflação. 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Mentiras petralhas nos comentários - 1

"Falar mentiras é diferente de ter uma opinião".
Reinaldo Azevedo, 26 de novembro de 2011.

Schopenhauer, ao elencar algumas estratégias que costumam ser usadas para vencer um debate por qualquer meio, lícito ou ilícito, avisava que os raciocínios errôneos eram fáceis de explicar e de entender, ao passo que as ideias corretas exigiam muito mais tempo e paciência para serem expostas e compreendidas. Daí a tendência das plateias se entusiasmarem com a ideia equivocada e cochilarem enquanto o debatedor a corrige

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Joelmir Beting e as raízes da desigualdade brasileira

Eu tinha pensado em escrever um ou dois posts sobre Joelmir Beting por ocasião de sua morte, mas acabei me ocupando de outros temas, e deixei passar. Agora, vou comentar um artigo em que esse ótimo jornalista econômico fez uma análise sobre as causas da desigualdade de renda no Brasil que, francamente, é até mais científica do que muita coisa que se costuma escrever na academia sobre o tema. 

O texto, publicado originalmente em 1996, começa citando a informação de que o índice de Gini da concentração de renda para o Brasil era de 0,60, conforme dados de 1993. A maior do mundo, conforme um estudo sobre 179 países apresentado no World Outlook, do Banco Mundial. No intuito de esclarecer as razões desse recorde, Beting começa por fazer uma revisão das principais teses usadas pelos acadêmicos para explicar o fenômeno da altíssima desigualdade brasileira, conforme segue:

terça-feira, 7 de maio de 2013

Capitalismo é ecológico quando os consumidores assim desejam, como prova o agronegócio

Um erro fundamental do marxismo e de outras vertentes da teoria social crítica é a tese de que, como a origem do lucro estaria na exploração do trabalho, as decisões dos empresários seriam determinadas pela esfera da produção, de modo que pouco ou nada teriam a ver com as "reais necessidades" da sociedade. Além de ser autoritário e pretensioso julgar-se em posição de saber quais são as "reais necessidades" dos outros, os teóricos e militantes de esquerda erram ao supor que as decisões sobre o quê e como produzir sejam descoladas dos desejos e expectativas dos consumidores. Numa economia competitiva e de mercado, como é a capitalista, ganha mais dinheiro quem for capaz de atender melhor a essas expectativas e desejos, de sorte que são os consumidores que, em última análise, definem quais produtos devem ser produzidos e como deve ocorrer a produção.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Gilberto Freyre, Tomasi di Lampedusa e o poder de contar a história

O sociólogo Gilberto Freyre dedicou seu trabalho de pesquisa mais importante, o livro Casa-Grande & senzala, aos seus quatro avós. O romance O leopardo, de Giuseppe Tomasi, príncipe de Lampedusa, narra a história do Príncipe de Salina, que era avô do autor. Ao comentar esse romance, o historiador Boris Fausto faz uma comparação muito interessante entre os dois autores, ao salientar que ambos pertenceram a famílias que haviam perdido o poder político, mas que conservavam o poder de contar a história.