quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Capitalismo na China foi o primeiro passo para libertação da mulher chinesa

Parece que ando muito preocupado com as minorias sociológicas ultimante... Usando um interessante sistema chamado crossbooking, peguei emprestado, numa cafeteria que frequento, um livro que há tempos eu tinha curiosidade de ler: As boas mulheres da China: vozes ocultas (Companhia das Letras, 2003), da jornalista chinesa Xinran.

Fruto de um trabalho jornalístico realizado de 1989 a 1997, o livro narra uma série de histórias chocantes de exploração, humilhação, violência, estupro, tortura, descaso e desrespeito contra mulheres, as quais revelam a distância astronômica que separa a mulher ocidental da mulher chinesa. 

Enquanto no ocidente vemos atrizes hollywoodianas querendo ganhar mais do que o trabalho delas vale com base no argumento da igualdade - e como se desvincular os cachês pagos às atrizes das bilheterias dos filmes que elas protagonizam não fosse justamente a abolição da igualdade! - as mulheres chinesas continuam vivendo num mundo onde impera, mais do que uma cultura machista, uma cultura misógina! Lugar pior do que a China para ser mulher, só se for em países como Irã e Arábia Saudita.

Neste post, vou comentar uma entrevista que a autora fez com uma universitária atraente, bem vestida e descolada. Ela revela que a melhor maneira de uma universitária chinesa bonita e bilíngue conquistar independência financeira, poder e uma vida de luxo é tornar-se "secretária particular" de um grande empresário, chinês ou estrangeiro. Só que essas "secretárias particulares" são uma mistura de prostitutas, secretárias e facilitadoras de negócios. Elas ficam dia e noite à disposição dos seus chefes, que lhes pagam todas as despesas de alimentação, vestuário, viagens e moradia. Vejamos as palavras da estudante:
A "secretária particular" na China é criação da política de reforma e abertura de Deng Xiao Ping. Logo que a China se abriu, todo mundo começou  a correr atrás do dinheiro, todo mundo queria ser patrão. [...] E como é que todos esses homens podem abrir uma empresa sem uma secretária? Eles não perderiam prestígio? [...] São inúmeras as garotas vestidas na moda que correm de um lado para o outro entre abafados departamentos do governo e aceleram o passo do desenvolvimento econômico da China.
Os estrangeiros que brigam para investir na nossa economia também precisam de "secretárias particulares". Eles não entendem nada sobre a China e seus costumes. Não fosse pela ajuda das secretárias, os corruptos funcionários chineses teriam feito picadinho deles há muito tempo (p. 60-61).
Um esquerdista que parasse a leitura aí poderia se animar a dizer que a volta ao capitalismo, por reintroduzir a lógica do lucro e o incentivo ao ganho individual na sociedade chinesa, é responsável pela corrupção e pela prostituição. Mas a verdade é bem outra.

"Suave comércio"

No caso da corrupção, o problema não está no livre mercado, mas, ao contrário, no peso excessivo da intervenção econômica estatal e no inferno burocrático criado por uma ditadura de partido único herdada do socialismo. É sabido que os países com mais corrupção são aqueles onde o Estado intervém mais ativamente na economia - alguém aí lembrou da Petrobrás? E o próprio relato da universitária evidencia que é o imenso poder da burocracia corrupta que torna necessário um trabalho intenso de facilitação de negócios para viabilizar investimentos na China. 

Agora, se as pessoas selecionadas para esse trabalho são estudantes bonitas, cultas e bilíngues que também precisam se prestar a fazer serviços de acompanhante em teatros, jantares chiques e quartos de hotel, é por obra e graça de uma cultura machista que nada tem a ver com a economia de mercado. Pelo contrário, a estudante revela, entre mil e uma críticas mordazes ao machismo dos chineses e comentários cínicos sobre os homens em geral, que a influência do capitalismo é benéfica para as mulheres:
As minhas amigas dizem que a China finalmente se alinhou com o resto do mundo em termos de assuntos de conversa. Como já não temos que nos preocupar com falta de comida ou de roupa, discutimos o relacionamento entre homens e mulheres (p. 66).
Pois é... Na China comunista, conforme as muitas histórias narradas por Xinran, a mulher era vista como um objeto, uma propriedade do marido, mas o assunto nem costumava ser discutido porque estava todo mundo preocupado em não passar fome e em ter o que vestir! Já o capitalismo tirou centenas de milhões de chineses da pobreza porque abriu um imenso horizonte de oportunidades para as pessoas melhorarem de vida com seu próprio esforço. Mas, como o machismo não tem nada a ver com economia, essas oportunidades se revelaram muito maiores para os homens do que para as mulheres: eles viraram empresários e as universitárias bonitas viraram suas "secretárias particulares".

Nesse sentido, a introdução do capitalismo na China foi o primeiro passo de uma longa caminhada para a emancipação da mulher chinesa, mas, para que esse processo avance, é preciso haver uma gigantesca mudança cultural, que destrua os estereótipos negativos que há milênios inferiorizam as mulheres desse país frente aos homens. 

Três vivas ao ocidente!

E, depois, "intelequituais" como Boaventura de Souza Santos criticam a cultura ocidental, censuram o capitalismo por não ter eliminado as discriminações de raça e gênero e ainda proclamam a necessidade de lutarmos por um certo "socialismo do século XXI". Bem ao contrário, devemos é dar três vivas ao ocidente:

Capitalismo, hurra!
Democracia, hurra!
Modernidade, hurra!

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