segunda-feira, 21 de março de 2016

Professores universitários ajudaram a destruir o Brasil, mas não me venham acusá-los com mentiras



Em 23 de julho de 2014, a Empiricus Research publicou o vídeo "O  Fim do Brasil". Para fúria dos petistas, afirmava que o Brasil tal como o conhecíamos nasceu em 1994, pois foi com o Plano Real que iniciamos uma era de estabilidade macroeconômica destruída pela gestão Dilma. E não há como negar que os professores universitários ajudaram nessa destruição.

Afinal, quantos reitores de universidade assinaram manifestos em apoio às candidaturas de Lula e Dilma nas últimas décadas, violando o princípio da neutralidade ideológica, política e partidária que se impõem a administradores de órgãos estatais? E o pior é que tais manifestos nada mais eram do que peças de propaganda eleitoral mentirosa! 


E quantos títulos doutor honoris causa foram concedidos a Lula, homem que nunca foi cientista e nem sequer leu um livro na vida, por suas supostas contribuições extraordinárias à educação? Ainda que tais contribuições tivessem existido, onde já se viu politizar um título acadêmico e concedê-lo a quem nunca fez pesquisa científica? 

E quantos professores universitários usaram salas de aula, publicações acadêmicas, além de entrevistas e textos publicados na imprensa, para atacar as reformas dos anos 1990 e o Plano Real, além de elogiar o PT por méritos que esse partido nunca teve? E vale lembrar que, assim fazendo, tais professores estavam esquecendo o que escreveram antes de o PT chegar ao poder...

Finalmente, quando Dilma, em 2011, resolveu forçar os limites da política econômica herdada de FHC até o ponto de romper com ela, em termos práticos, quantos acadêmicos não acharam isso positivo? E quando esta se viu forçada pela decolagem da inflação e da dívida pública a cortar gastos, quantos não se alinharam à oposição de Lula e da Fundação Perseu Abramo às medidas de austeridade - aliás, insuficientes? 

O resumo da ópera é que a maioria dos professores universitários, de maneira contraditória e cínica, atacou os governos de FHC, elogiou Lula por dar continuidade à política econômica herdada do antecessor, apoiou Dilma quando esta resolveu romper com a herança tucana e criticou o esforço de retomar o equilíbrio fiscal quando as consequência desastrosas dessa mudança bateram à porta - prejudicando, inclusive, o reajuste salarial dos professores federais... E eu quase esqueci de mencionar que esses professores, que antes de 2003 viviam a falar grosso contra a corrupção, agora dão de ombros diante dos maiores escândalos da história!

Fora, Apartidários

Sim, nossos professores universitários ajudaram a destruir o Brasil, mas nem por isso devemos endossar certas críticas simplistas e mentirosas contra esses professores! Nos últimos dias 13 de março e 13 de dezembro, com efeito, participei dos atos pró-impeachment que tiveram início na Praça Santos Andrade, em Curitiba, como mostra o vídeo acima. Dou meus parabéns ao Movimento Brasil Livre e ao Vem Pra Rua, mas repudio o movimento Apartidários - que, felizmente, não tem quase expressão nenhuma na campanha. 

Além de fazer discursos autoritários contra partidos e políticos em geral, um dos representantes do Apartidários pegou o microfone para ironizar professores "socialistas e petistas" que "vão para a universidade de Mercedes e BMW". Até aí, temos uma ironia válida contra professores como Marilena Chaui e José W. Vesentini, que enriquecem malhando o capitalismo em livros didáticos. Mas houve um momento em que o sujeito disse que professor universitário que apoia o PT é "sem vergonha" e faz isso porque ganha dinheiro, sugerindo haver uma relação direta entre apoio político e BMW.

Não é bem assim. Não duvido nem um pouco que haja intelectuais que apoiam o PT só para receber benesses (o mesmo acontece com certos jornalistas), mas uma generalização dessas é completamente falsa. A maioria dos professores universitários que eu conheço é petista, mas nenhum deles tem carro de luxo. E tal afirmação é muito mais válida ainda para os professores petistas do ensino fundamental e médio, não?

O apoio dos acadêmicos a teses econômicas desastrosas é fruto de opções ideológicas e de convicções científicas genuínas e intimamente ligadas. E a forma contraditória e cínica como apoiaram o continuísmo de Lula nessa área reflete a crise das teorias de esquerda, seguidamente derrotadas pela história, combinada com o apego dogmático que tais professores têm a teorias e ideologias sobre luta de classes. Finalmente, a hipocrisia e o cinismo de seus discursos sobre ética na política reflete a concepção, tipicamente esquerdista, de que os fins justificam os meios.

Isso faz com que as ideias e a influência política desses professores sejam menos deletérias? Não, de modo algum! A questão apenas é que devemos entender e criticar a intelligentzia de esquerda por aquilo que ela realmente é, não com base em generalizações falsas e discursos simplistas. Afinal, mentir com o fim de ter mais munição para atacar o adversário é uma atitude típica de reitores e professores petistas, e nós não seremos melhores que eles se copiarmos seus métodos!

Além do mais, se existe uma coisa que não falta nesta vida são argumentos para criticar o PT e os professores que o apoiam. E ver o Pixuleco gigante bem em frente do prédio histórico da UFPR, como aparece no vídeo, é a prova de que muita gente já percebeu isso.

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5 comentários:

  1. Caro professor!
    mais uma vez concordo com sua colocação. Há uma diferença grande sobre as verdades que os professores nos apresentam como absolutas e o que aceitamos como tal. Como participantes do processo temos por obrigação procurarmos fora da academia fontes, mesmo que restritas, para formularmos opiniões racionais baseadas na pesquisa científica. Levo em consideração que muitos professores, principalmente os mais recentes, também são vítimas do inaceitável sistema imposto. Mesmo sendo adepto ao capitalismo não significa que não posso olhar para o âmbito social. Apenas minhas soluções podem ser obtidas de forma diferente ao assistencialismo desenfreado que temos hoje. Extremismo, seja qual for, não parece positivo em qualquer aspecto. Abraços!

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    1. Sim, os teóricos anticapitalistas quase sempre se supõem moralmente melhores do que os outros. Daí não ser incomum ver autores como Milton Santos e Boaventura de Souza Santos dizendo, explicitamente ou não, que os teóricos de outras correntes são vendidos. Mas devemos ser justos: também no campo da direita intelectual há autores, como Olavo de Carvalho, que falam como se o monopólio do caráter estivesse com a direita. Não é bem por aí, embora as concepções da esquerda radical sobre ética na política sejam execráveis (o que me referi ao falar sobre a ideia de que "os fins justificam os meios).

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  2. A maioria dos meus professores são favoráveis ao atual governo. O meu professor de geografia politica falou mal das manifestações dizendo que não passavam de uma elite inconformada com a perda de privilégios. Professor o senhor pode me indicar geografos que não conpactuam com a visão geocritica? Na universidade em todas as diciplinas de humanas é difícil encontrar indicações de leituras não marxistas.

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    1. Bem, um professor e um geógrafo que eu conheço e que remam contra a corrente são os meus amigos Fernando Raphael Ferro de Lima e Anselmo Heidrich. Nós três publicamos o livro "Não Culpe o Capitalismo". Quanto a livros não marxistas, existem muitos. Mas depende do assunto que você deseja estudar. Como a geografia trata de uma variedade de temas gigantesca, há também uma quantidade imensa de bibliografia para ler. É preciso selecionar uma área da geografia e mergulhar na bibliografia pertinente àquela área. Afinal, as reflexões teóricas precisam estar sempre vinculadas ao objeto de estudo em questão.

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