Uma das muitas aberrações do Brasil atual é o discurso de que a agricultura "camponesa" não age movida pelo interesse em obter lucros, mas sim pelo objetivo de reproduzir seu modo de vida, o qual se adaptaria ao capitalismo de forma "contraditória". Em função disso, haveria uma "lógica da produção camponesa" que, contrariamente à "lógica do agronegócio", estaria orientada para a produção de alimentos saudáveis de forma ambientalmente sustentável e destinados ao consumo no mercado interno.
Mas como os "pesquisadores" que estudam o agro com esses parâmetros explicam o fato de que a maior parte da produção de tabaco é realizada pela agricultura familiar? Bem, ou eles simplesmente omitem esse fato - tal e qual acontece nas tabelas do suplemento especial do Censo Agropecuário 2006 sobre agricultura familiar -, ou então sugerem que o produtor familiar muitas vezes planta fumo por falta de opção. Noutros termos, justificam suas explicações apriorísticas com uma racionalização ad hoc segundo a qual muitos "camponeses" se vêm forçados a assimilar a "lógica capitalista", ao menos parcialmente, como estratégia para resistir no meio rural.