quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Mais da metade dos "grevistas" reprovou por não ter entregue os trabalhos!

Os cerca de 50 alunos da minha disciplina que não aderiram à paralisação estudantil do final de 2016 fizeram as provas (dentro das condições possíveis, tendo em vista os piquetes) e praticamente todos foram aprovados. No caso dos 15 pseudo-grevistas que solicitaram reposição de aulas, também era bem fácil passar. Conforme o plano de reposição aprovado no Colegiado de Curso de Graduação, bastaria entregarem cinco resenhas de cinco textos com temas pertinentes ao conteúdo ministrado no semestre. Ou seja, tiveram quase o mês de janeiro todo livre para fazer 5 trabalhinhos fáceis e que não demandavam mais do que umas poucas horas de esforço cada um. Mesmo assim, dos 15 "grevistas", 8 não entregaram nem uma resenha sequer!


Fiquei surpreso de ver que mais da metade dos alunos preferiu reprovar na disciplina a fazer essas atividades simples e rápidas. Mas o que esse fato prova? Prova que há duas motivações que levam certos alunos a aderir a paralisações estudantis. 

A primeira é a crença de que uma paralisação das aulas prejudicaria os serviços públicos de ensino num grau tão intenso que poderia gerar uma crise institucional capaz de forçar o Excecutivo e o Legislativo a ceder diante dos interesses e bandeiras político-partidárias que esses alunos defendem. Já a segunda motivação é o interesse de matar aula e/ou de passar de ano sem fazer muito esforço, interesse que se apoia na previsão de que há na universidade professores simpáticos a paralisações estudantis em número suficiente para assegurar que os "grevistas" terão uma reposição de aulas bem fácil de levar. 

E vale dizer que essas duas motivações não são mutuamente excludentes, não! Afinal, por que alunos politicamente mais engajados, que invadiram edifícios e fizeram piquetes na tentativa de impor sua vontade aos professores e demais alunos, haveriam de querer uma reposição de aulas exigente? As duas motivações não andam necessariamente juntas, mas são compatíveis. 

No que deu tudo isso

Bem, a tentativa facistoide de jogar o país numa crise institucional deu com os burros n'água. De fato, quando os invasores dos edifícios da UFPR mandaram seus primeiros e-mails com despachos de ordens aos professores e alunos, tais mensagens começavam com o clichê: "em primeiro lugar, Fora Temer". A paralisação terminou sem produzir qualquer resultado nesse sentido.

E a tentativa de mudar o processo legislativo também foi um fracasso. Afinal, tanto a PEC do Teto de Gastos quanto a reforma do ensino médio foram aprovadas com folga, apesar de a oposição a ambas ter sido uma das principais bandeiras de invasores e piqueteiros.

Já quanto ao interesse de ganhar nota sem fazer muita força, bem... eu achei que eles todos iriam ficar satisfeitos. Afinal de contas, a Resolução 60/16 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão - Cepe, que regulamentou as reposições de aula, criou condições para que a vontade dos pseudo-grevistas prevalecesse na definição dos planos de reposição, fosse ela qual fosse. É só ler o parágrafo 2º do Artigo 5º:
O plano de ensino substituto construído em conjunto pela ou pelo (sic) docente e, preferencialmente, pelos estudantes deve atender aos objetivos e conteúdos dos planos de ensino originais, bem como substituir as frequências às aulas [negrito meu].
Em função disso, apresentei ao Colegiado de Curso duas propostas de reposição de aulas, mas já sabendo de antemão que a segunda seria a escolhida. Afinal, a primeira previa aulas presenciais e aplicação de provas tal e qual como se o semestre nunca tivesse sido perturbado pela paralisação. Já a segunda previa a elaboração daquelas resenhas pra lá de fáceis e rápidas de fazer que eu citei acima. E o representante dos alunos na reunião do Colegiado foi bem sincero quando se declarou favorável a esta última: é que muitos alunos já tinham viagens programadas para o período de férias...

Mas numa coisa eu me enganei. Para mais da metade dos 15 alunos que solicitaram reposição de aulas na minha disciplina, ao contrário do que eu esperava, fazer essas cinco resenhas era trabalho demais. Tanto que não fizeram nenhuma. Sinal de que esperavam mais facilidade ainda! Então, tá.

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